No dia dxs professorxs, falar
sobre a atividade docente é um clichê inevitável. É importante refletir sobre o
papel da educação em nossa sociedade, e me sinto mais à vontade para falar
sobre a educação superior, meu “esporte de combate” atual.
Ser professor é ser complexo. No mínimo, é carregar
algumas preocupações relacionadas ao término do conteúdo, ao nível das provas,
às respostas dos alunos em sala de aula. Na minha opinião, a atividade docente depende de aprofundamento na teoria, estudando sempre, sem nunca se esquecer da prática de
nosso sistema de justiça (criminal, no meu universo) e das dificuldades de
inserção ou de compreensão de uma corrente-processualística-europeia-rococó no
Brasil. É, principalmente, preocupar-se com a utilidade de determinado conhecimento para a vida do aluno,
cidadão, estudante de Direito, futuro membro deste campo jurídico. Utilidade não
no sentido utilitarista da coisa, mas sim em dar sentido àquele conceito,
àquela teoria, fazer com que a coisa toda seja minimamente coerente. Não é
fácil.
Ser professor é trabalhar MUITO. Elaborações
e correções de provas e de exercícios, monografias, reuniões pedagógicas,
palestras e leituras demandam muito tempo. Além disso, a capacidade de reflexão (dx professor e dxs alunxs) precisa de um certo tempo de respiração, nem sempre possível.
Exatamente pela falta de tempo
para uma maior reflexão (que deveria acontecer, talvez, levando os cachorros
para passear ou tomando um café demorado em algum bistrô), ser professor é
viver inquieto. É “pensar alto”, refletir sobre problemas, tentando ora resolvê-los,
ora diagnosticá-los. Ser professor é ser crítico – do sistema processual, da
lei, da sociedade, do mundo. Mas também é fazer parte dele, levando informações
aos alunos. E é aí que o professor tem a maior responsabilidade possível:
indicar fontes de informação, torná-las acessíveis para que os alunos sejam
sujeitos pensantes, formadores de opinião.
Sempre digo que estudantes de
Direito que não têm opinião sobre determinados assuntos ainda não se descobriram
estudantes de Direito. O que trato por “opinião” é o desenvolvimento de um
argumento – que pode ser originado de questões morais, religiosas,
político-partidárias, qualquer coisa –, mas que deve guardar coerência. É importante
que o estudante saiba disto.
Ser professor é, por fim, ser
estudante sempre. É manter uma relação direta com os alunos, sem autoritarismo
infundado. É aprender sempre – com a realidade dos alunos, com novos argumentos
e teorias, com as pesquisas e trabalhos desenvolvidos. Ser professor é estar
inserido neste círculo tão importante que é a sociedade brasileira, é se
posicionar, é defender a liberdade de fala, de escrita, de pensamento.
Ser professor
é ser livre.
*Este post é uma pequena homenagem a todos os
professores que marcaram a minha vida. Nominalmente, lembro-me de Benildes
Bizinotto Catanant, José Maria Ferreira Madureira, Silvana Elias, Clovis de
Carvalho Júnior, Maria Regina Pagetti-Moran, Paulo César Corrêa Borges,
Cristiano Paixão e Ela Wiecko Volkmer de Castilho, mas há tantos outros que foram e ainda
são importantes ao meu constante processo de aprendizado. Não posso deixar de
mencionar minha grande professora primária, querida, carinhosa, paciente, que
me ajudou tanto na primeira infância e continua ouvindo meus desabafos sobre a
docência: minha mãe, Ivonete Maria Costa Ferreira, professora mais do que
vocacionada. Obrigada a me ajudar a seguir sua profissão.